Não acho que seria possível ter noção da dimensão do Atacama não fosse este vôo no nosso caminho. De um lado o Pacífico, do outro a Cordilheira e no meio... Nada! Ou quase nada... Ocasionalmente uma casinha ou uma pequena cidade aparecia fora da costa. Sendo conhecido como o deserto mais árido do mundo, não havia uma única nuvem que nos impedisse de ver a lua cheia se por no Pacífico enquanto por detrás da cordilheira vinha subindo o sol em pleno vapor.
Descer em Calama foi a primeira experiência surreal dentro das muitas que se seguiriam pelo dia. Além da pista propriamente dita por onde o avião desce e tem que taxiar, todo o resto do aeroporto é feito de ... areia!! Sendo um aeroporto pequeno, depois de descer, o avião faz meia volta pela mesma pista por onde veio e segue até a área de desembarque. A recepção, às 7:30 da manhã foi feita em forma de ventos que trincavam até o último osso do dedinho do pé e declarados 6° C, ainda que eu tivesse certeza que se tratasse de muuuuito menos. Pela única esteira do aeroporto todos os passageiros foram pegando suas malas, enquanto esperávamos sentados até que sobrássemos somente nós e algum grilo desavisado aguardando pelo mocinho que deveria nos entregar o carro alugado. Como a cidade é pequena, os agentes das empresas de aluguel de carro não fazem plantão no aeroporto, nem em pleno 31 de dezembro, principalmente porque todos os carros disponíveis na cidade já haviam sido locados. Contamos, pra nossa felicidade, com a ajuda dos 2 únicos agentes que estavam por ali pra ligar pro celular da pessoa responsável e apressá-la a chegar.
Lá fomos nós com nosso mais novo Toyotinha, procurar um mercado pra nos abastecer antes de seguir pra São Pedro, considerando que dados os últimos imprevistos, se nada mais desse certo, pelo menos teríamos o que comer até a noite.
Se pudesse descrever Calama, seria algo como uma Dubai de classe média. Um oásis no meio do deserto, e ainda assim com uma estrutura comercial bastante sólida. Pelo menos para viajantes de emergência como nós. Encontramos um bom supermercado e um shopping Center que equivaleria a qualquer um de São Paulo, compramos nosso café da manhã, um colchão inflável e dois sacos de dormir e partimos para São Pedro para encontrar nossos companheiros de viagem que vinham do Brasil até nosso ponto de encontro de carro. Nosso tempo de férias, porém, não permitiu que fizéssemos o mesmo.
No nosso caminho... deserto. Nenhuma novidade, considerando que já sabíamos onde estávamos nos metendo. Porém, pra quem nunca esteve em um deserto antes (eu já estive no Novo México, mas numa experiência totalmente diferente que não conta pontos aqui) não se tem idéia da dimensão do dito cujo até que se esteja lá no meio. Ele não termina nunca, e assim fomos acompanhados de dunas, erosões e outras modalidades de amontoar areia até nosso destino.
São Pedro do Atacama é uma cidade pitoresca (e acredito que neste caso, a palavra “pitoresca” tenha tido sua melhor utilização desde que eu a descobri na adolescência) de 1958 habitantes no meio do deserto. É uma São Tomé das Letras, que ao invés de ter sido contruída com pedras São Tomé, foi construída em adobe, no secume sem fim característico da região. As ruas são de areia e na rua principal, a Calle Caracoles, não se pode passar de carro. Assim, os turistas, que se apinham por ali vindos de todas as partes do mundo (mas naquele dado momento no tempo, principalmente do Brasil) caminham livremente por entre as lojas, e as tantas agências de turismo que pipocam por ali. Para uma cidade deste tamanho, a estrutura turística é incrivelmente organizada e há ótimas opções de restaurantes com atendimento bastante simpático. Como nossos companheiros estavam atrasados na chegada, achamos um canto bem bonitinho pra comer num restaurante chamado Casa de Piedra para fazer nossa primeira refeição que não saísse de um carrinho de aeromoça ou uma sacola de supermercado. Enquanto comíamos os funcionários do restaurante aprontavam um globo de discoteca que seria usado na festa de ano novo, mais tarde, junto com jogos de luzes coloridas que contrastavam drasticamente com as paredes de adobe e a cobertura de palha vazada que deixava um pouco da luz do sol do deserto entrar naquele espaço.
Foi com muita sorte, portanto, em pleno dia 31 de dezembro lotado de turistas, sem reservas de hotel, que achamos no 14º hotel, hostal ou camping, um chalé pra quatro pessoas, que convencemos a dona a alugar para nós seis. Nosso oásis particular àquelas alturas tinha dois quartos, uma cozinha e um banheiro com água quente. Tudo muito bonitinho e arrumado. Pegamos sem pestanejar.
Na cidade você achará opções que vão de campings de 7 reais por pessoa, até hotéis de 600 reais a diária, mas independente da sua opção de hospedagem, a não ser que você tenha ido até ali para ver a natureza única que circunda a cidade, não há muito mais que se fazer numa cidade de adobe e areia.
Assim, devidamente alojados no nosso cantinho, e depois de um cochilo de 2 horas, que seria o único sono que havíamos visto naquela jornada que já durava 32 horas, mas que ainda duraria mais 12, fomos para o Vale da Lua ver o último pôr-do-sol de 2009.
O Vale da Lua fica localizado
Como o dia não terminava, mas o ano sim, preparamos nossa ceia mais frugal desde que eu me conheço por gente que passa a meia noite acordada no ano novo. Queijo, uvas, abacaxi, melão, alguns pãezinhos e salame compunham a nossa ceia, junto com uma champagne que havíamos comprado no caminho em Calama, vinho, uísque e algumas outras opções etílicas. Resolvemos por celebrar duas vezes: às 11 horas, quando escrevemos e ligamos para os parentes no Brasil que já colocavam o pé direito no ano novo e depois novamente à meia noite local, junto com os outros chilenos e gringos que por ali se juntavam.
Para uma cidade deste tamanho a balada é algo mais próximo à Ibiza do que eu esperaria. Portanto, na rua principal, portinha após portinha anunciava naquela noite a sua festa particular. Acabamos entrando em uma cuja adesão não era cobrada. Já não devia me espantar a essas alturas quanto entre as salsas locais e as músicas eletrônicas que pontuam qualquer balada, espremeram nossa cultura mais rica, com o Melô do Jacaré ou o Bonde do Tigrão. Mas, como balada é balada e eu não estava muito crítica depois das já 42 horas tocando direto, conseguimos improvisar até alguma coreografia, que apontava os dedos para cada brasileiro que estivesse presente naquele espaço.
Foi assim que, aos 44 (horas) do segundo tempo e a pé, tomamos um banho quente e nos rendemos à cama. Não é necessário dizer que tudo isso foi feito a algo em torno de
Um comentário:
to viajndo no post
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