Precisamos rodar uns bons 130 km pra sul de Antofagasta para ver a etapa da prova que vinha de Copiapó. O lugar escolhido: uma duna antes da chegada no meio de que? Do nada, é claro, afinal, estamos no deserto. E, neste, caso, diferente de San Pedro, que fica localizada nas alturas, um deserto dos muuuuito quentes. Uma coisa é interessante a respeito do deserto, como ouvi dos próprios chilenos enquanto esperávamos ali. As terras do deserto são de uso coletivo, todos podem desfrutar do espaço (que, diga-se é imenso), no entanto, há apenas a concessão do uso da terra, mas não a propriedade, como é o caso da enfiteuse no Brasil. Precisaria perguntar melhor, mas acho que escritura só existe nas cidades... O uso da propriedade e o desfrute do deserto ficou patente quando se estabeleceu tacitamente que os banheiros estariam localizados à direita dos carros. Esse negócio de banheiro no meio do deserto ainda seria tema de muito debate pelo caminho, mas comecei a acreditar que dizia respeito à liberdade (aliada à falta de estrutura) que o deserto proporciona. Mal havíamos acertado nosso acampamento particular, com churrasqueira e carne de “pavón”, quando uma tempestade-zinha de areia levantou nossa cobertura, transformou nossa carne numa milanesa sem ovos e quase nos mandou embora para casa, mas meia duna mais a frente conseguimos nos estabelecer novamente e esperar os brasileiros terminarem de passar (com direito a bandeira e tudo mais). Muito sol e quinze camadas de protetores diversos depois, voltamos para o acampamento oficial da prova para acampar em La Portada, onde já havíamos estado dois dias antes e onde seria a base oficial da prova pelos próximos dias. Terminamos o churrasco, agora sem milanesa, estreamos a barraca comprada na véspera e fomos dormir alta madrugada com vista para a cidade toda iluminada e ao som do gerador de uns argentinos sacanas que ficaram acordados até muito mais tarde que nós, enquanto debatíamos a possibilidade de afogar Buenos Aires com toda a água do Rio Paraná.
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