31 julho, 2009

São Paulo Adams

Desde semana passada, nós paulistanos vivemos em um cenário de filme da família Adams. Uma neblina e uma chuva sem fim insistem em cair dia sim, noite também e um ensaio de sol até chegou a aparecer no horizonte distante, no que foi imediatamente deposto por nuvens raivosas que cuspiram granizo madrugada adentro, demarcando seu território. Estiagem? Aonde?

Aquele céu de brigadeiro dos dias de inverno que me trazem boas lembranças de quando era duro sair da cama, mas que ao meio dia se podia circular com uma manga fininha, não passam realmente de recordações. As três blusas e duas calças colocadas no período da manhã vão perdurar amalgamadas no corpo até o fim do dia, quando serão substituídas após o banho de 45 °C por um pijama quente e dois cobertores... ou dois pijamas quentes e um cobertor... o que for mais prático. É certo que são sempre três camadas de qualquer coisa acima da pele e três camadas de mau-humor até chegar lá no subconsciente a uma distante alegria de dias quentes e lindos.

Eu não nasci pra morar na Islândia. Minha curta incursão ao intenso inverno europeu provou que dez dias de neve, ou noite, ou frio incessantes sem um solzinho pra chamar de meu são suficientes pra que eu mergulhe numa tristeza danada... Portanto, passadas as últimas duas semanas muito me surpreende que eu ainda não esteja chorando em comerciais de margarina...



28 julho, 2009

De (re)entradas e bandeiras

Quando nasci um anjo esbelto,
desses que tocam trombeta, anunciou:
vai carregar bandeira.
Cargo muito pesado pra mulher,
esta espécie ainda envergonhada.
Aceito os subterfúgios que me cabem,
sem precisar mentir.
Não sou feia que não possa casar,
acho o Rio de Janeiro uma beleza e
ora sim, ora não, creio em parto sem dor.
Mas o que sinto escrevo. Cumpro a sina.
Inauguro linhagens, fundo reinos
— dor não é amargura.
Minha tristeza não tem pedigree,
já a minha vontade de alegria,
sua raiz vai ao meu mil avô.
Vai ser coxo na vida é maldição pra homem.
Mulher é desdobrável. Eu sou.

Adélia Prado

Porque a noite uma hora acaba em dia...


O moço toca flauta enquanto ela lembra das virtudes esquecidas nas cavernas de seu coração. A melodia vai ecoando por toda parte, desde os ouvidos até o pulmão. Ela tropeça nela mesma enquanto se enternece com o som raro daquela flauta. E a tristeza transversal que até então lhe preenchia dá lugar a uma euforia luminosa, assim sem razão de ser, mas já sendo.
(Ecoando Notas - TM)

A imagem linda e outras tantas estão aqui.

27 julho, 2009

De pessoas e ilhas

Já faz mais de uma semana, mas a clorofila acumulada no findisemana anterior ainda dá um gás nos pulmões maltratados pelo gás carbônico vomitados em doses nada delicadas pelas idas e vindas de casa pro trabalho e o trajeto oposto quando o sol já virou lua faz um tempo. Uma preguiça sem fim de um inverno que parece querer durar pra sempre.
A filhota descobriu as estrelas, e se estatelou de bumbum no chão diversas vezes enquanto as namorava. Eu também namorei as estrelas, que não via há tanto tempo que tive que me apresentar a elas novamente. Não sei se foi bom ou ruim, porque a sensação de ressaca de ter voltado pra casa ainda não passou... Uma vontade de não voltar. Uma dúvida imensa sobre o que é mesmo que eu estou fazendo aqui...
Deve ser também porque não foi só o gás carbônico que entrou correndo pelas veias no pisar de volta a cidade, mas a maldade que só as crianças são capazes de cometer na sua inocência de falar tudo o que pensam. Mas não era uma criança... e não era de maneira alguma inocentes as palavras que me botaram num silêncio ensurdecedor.
Nem vi que tinha passado a semana inteira quando consegui concatenar minhas idéias novamente com a ajuda de queridos e inestimáveis amigos e uma senhora dose de música boa, nas horas e horas que passaram com meu fone de ouvido, agora moldados às minhas orelhas depois deste período pouco produtivo de exílio forçado.
Dizem que grandes peças e livros foram produzidos no exílio forçado. Talvez estes exílios tenham sido mais meditativos que o meu, pois a cabeça emudeceu junto com a boca, e não consegui colocar duas palavras de minha autoria que fizessem sentido, ainda que tivesse tanto, tanto, tanto pra dizer.
Ainda tenho, mas vem vindo a conta-gotas. Considerando que estamos em plena estiagem no Hemisfério Sul, melhor pingando que secando...

22 julho, 2009

Serumano



“Nenhum homem é uma ilha, sozinho em si mesmo; cada homem é parte do continente, parte do todo; se um seixo for levado pelo mar, a Europa fica menor, como se fosse um promontório, assim como se fosse uma parte de seus amigos ou mesmo sua; a morte de qualquer homem me diminui, porque eu sou parte da humanidade; e por isso, nunca procure saber por quem os sinos dobram, eles dobram por ti”
(John Donne)

"Every man is an island, but clearly, some men are part of island chains. Below the surface of the ocean they're actually connected."
('Will Freeman', the character of Hugh Grant in "About a Boy")

Porque hoje eu precisava mesmo era divagar...