30 setembro, 2005

“Uma menina do seu tamanho”


Eu não sei se mais alguém lembra, mas eu nunca esqueci desse texto que apareceu várias vezes nos meus livros de português nos muitos anos de colégio.
Eu descobri faz pouco tempo (mais precisamente: semana passada) que ele faz parte de um livro da Ana Maria Machado, chamado “Bem do seu tamanho”.
O texto fala de uma menininha que não pode fazer uma série de coisas, porque uma menina do seu tamanho já não faz, ou ainda não faz aquilo. Uma menina do seu tamanho não fica na sala enquanto os adultos estão conversando (sim, na minha infância ainda existiam essas restrições!). Mas uma menina do seu tamanho também já é grande demais pra fazer birra. No fim das contas, a menina não sabe bem qual é o seu tamanho, pois nada parece ser adequado pro tamanho dela.
Eu fiquei anos com esse texto na cabeça sem entender por quê. Até o dia em que eu acordei e vi que todos nós somos, eternamente, uma menina, ou menino, do seu tamanho.
Tudo começa com a idade da menininha do texto, ou até antes.
Depois...
Uma menina do seu tamanho não sai a essas horas da noite. Um menino do seu tamanho já devia estar trabalhando.
E o tempo passa...
Uma moça do seu tamanho já deveria estar casada e com filhos. Um moço do seu tamanho não brinca mais com essas coisas.
E continua passando...
Uma mulher do seu tamanho não vai a esses lugares. Um homem do seu tamanho não sai com uma mulher deste tamanho.
A questão é que, independente das lacunas a preencher com o tal tamanho, nós nunca vamos escapar dessa fita métrica.
Então, se é assim, eu só proponho que nós sejamos do nosso tamanho, o tamanho que nos faz felizes. E que esse tamanho possa nos levar a lugares incríveis e a experiências inesquecíveis.
Bem do nosso tamanho!

27 setembro, 2005

Bang-Bang

Eu tinha prometido que não ia contar, mas é bom demais pra guardar só pra mim!
Já avisando em tempos de plebiscito que armas de verdade não entram aqui em casa por motivos que eu não vou ficar explicando. Em compensação, a espingardinha voltou a atacar...
Sábado à noite, a gente em casa, toca o telefone. É uma amiga que acabou de terminar pela enésima vez com o namorado que não aceita o fim do relacionamento. Se é que isso é possível...
Pede pra gente ir buscá-la, pois ela tem medo do moço fazer uma loucura. Chega aqui em casa gelada de tanto nervoso.
Dali a pouco passa o Lu com a espingardinha indo pro quintal.
“Larga a mão dessas pombas”, eu digo. “Que pombas?”
Saio pra ver.
Que pomba que nada. Como ele não sabe mais o que fazer pra ajudar a passar o nervoso da moça, ele desenha a cara do dito cujo (que ficou tal e qual!) e vão os dois brincar de tiro ao alvo. Já no primeiro ela acerta na testa! Saiu calminha, calminha...

Hoje não tem crônica, mandei a minha pro jornal e fiquei muda de idéias. Mas recomendo e assino embaixo das Garotas que dizem Ni !!!

Por fim: Marina, achei Passargada
para você! Não acho que vai ter um rei por lá, mas você vai encontrar, com certeza, a paz que está procurando. E pensando bem, acho que eu vou junto!

23 setembro, 2005

Update na situação das pombas:

Elas não levam mais o Lu a sério! Descobriram que ele só tá blefando e nem se mexem mais... Ele tá frustradíssimo e diz que qualquer dia atira pra valer...

E falando em crises... Texanos: se mandem daí! A Rita tá chegando e desde o tempo do Chico Buarque ela já causava estragos!!

Por aqui, ficamos com Mário Quintana, que entende da minha vida melhor do que eu mesma:

Se as coisas são inatíngíveis...
Ora,
Não é motivo para não querê-las
Que tristes os caminhos
Se não fora
A mágica presença das estrelas!


E assim, eu vou bancando a astronauta...
Bom fim-de-semana!

19 setembro, 2005

Ora, Pombas!

Em homenagem a dois amigos, melhores contadores de "causos" que eu conheço!


Sábado era pra ser um dia calmo. Daqueles que não se tem hora pra acordar, e quando acordar, ir engatinhando até o sofá achar alguma coisa boa passando na TV e por lá ficar.
Mas não podia ser assim, tão fácil. Então seis e meia eu acordo com uma dor de cabeça chatíssima. Rezo, faço mandinga, compressa, até passar. Ainda tenho mais umas horas de preguiça.
Sempre ficamos com a veneziana aberta pra gente poder acordar com a luz do dia.
Hoje, no entanto a veneziana aberta me fez ver um sujeito plantando uma escada na minha sacada!
Acordei o Lu de uma pancada só. "Tem um cara ali fora!", "O que??", "Tem um cara ali na sacada!"
Ele não entendeu nada, mas que tinha um homem na sacada tinha! Fomos descobrir era o senhor contratado pela dona da casa, que não tinha nos avisado de nada, pra eliminar as pombas do telhado.
Eles usam um tipo de cola que quando a pomba assenta, fica grudada naquela gosma e, percebendo que aquele não é mais um lugar legal pra ficar, contam umas pras outras na sua linguagem columbina (ou seja, de pombas! - esse eu tive que achar na gramática!) até que não exista mais pomba no telhado. Ou assim eu imagino.
Acordamos, sem opção e com um mal-humor do cão a essas alturas, pra começar o dia.
Fiz meu café e sentei na frente do computador pra revisar alguns trabalhos quando ouço o Lu gritando que nem louco: "Saaaaaiii! Saaaaaiiii!"
Corro pra ver. São as pombas, em um dia de MST (Movimento das Sem Telhado), que resolveram invadir nossa cozinha já que não têm mais telhado onde pousar. Se escondem atrás do lixo, driblam o dono da casa, abrem as asas e as batem em sinal de ameaça. Fazem e aprontam e são expulsas da casa, porque cozinha não é lugar de pomba. Ele diz que já vai resolver o problema.
Volto pro computador onde passo o resto da manhã trabalhando.
Lá pelas onze desço pra ver o que vai ser do almoço e encontro a espingarda de pressão encostada em um canto da cozinha, do lado da lata de lixo que havia sido sujeita da ocupação, com a caixa de chumbinhos, pronta pra uso.
Dias difíceis esses...

15 setembro, 2005

Brincadeirinhas

Vi aqui, depois ali , não resisti e fiz a minha.

Começou com ela, que escreveu assim:
Não sei bordar, não sei costurar, não sei tricotar, não sei crochetar, não pinto, não desenho, não danço, não canto e não toco nada, mas sou apaixonada por artes em geral. Fotografo masomenos, sei a teoria. Adoro ler. Amo tecnologia, mas sou fã de cartas. Louca por cheiros e sensações - sou taurina. Tenho um senso estético chatíssimo, chega a doer. Gosto de animais e plantas mais do que de gente. Cabelos sempre curtos e sempre acima do peso, sorrindo por dentro, pouca gente é capaz de enxergar. Boa de garfo e de fogão. Tenho muitos conselhos no bolso, nenhum dinheiro. Amo incondicionalmente, mas tenho calos doloridos, não pise. Gosto de frio, de chuva, da noite, da europa. Vivo no Brasil, a vida pode ser cruel. Devo, não nego, pago quando puder. Adoro caixas e laços mais do que presentes, dou mais do que recebo. Cobro atenção. Não mordo.
E você?

Eu?
Bordo um pouco, costuro nada, mas descobri que sei fazer mais coisas do que imaginava. Pinto só os cabelos, danço qualquer ritmo, canto sem parar. Toco castanholas e não entendo todo tipo de arte. Amo fotografia, mas entendo bulhufas de teoria. Escrevo e leio alucinadamente. Gosto de tecnologia, mas o papel ainda me fascina. Louca por novos caminhos e experiências-sou sagitariana. Cultivo meu senso de humor, meio cínico-irônico, que nem todos conseguem entender. Gosto de pessoas, porque sei lidar melhor com elas que com animais e plantas. Cabelos sempre descontrolados, peso sob medida, sorrindo por fora, pouquíssimas pessoas até hoje enxergaram por dentro. Ruim de garfo e de fogão, mas aprendendo. Pouco dinheiro no bolso, conselhos pra dar e vender, mais dar que vender. Amo muito, evito calos, mas se pisarem nos meus sumo por uns tempos. Gosto de cheiro de chuva, noites de verão, dias de inverno. Vivo no interior, cada dia tentando entender o mundo a minha volta. Devo, não nego, pago a prestação. Coleciono momentos bons. Dou e recebo em grandes quantidades. Cobro respeito. Só mordo quem me morde.

E você?

10 setembro, 2005

Insights


Eu tive um insight dos mais estranhos essa semana: eu não posso mais nem dizer “eu não sei se caso ou compro uma bicicleta”.
Primeiro pq eu já casei, e o próprio marido me deu uma bicicleta de presente!
E agora? O que eu digo nas minhas crises de identidade?
Por enquanto acho melhor dizer “eu não sei se descaso ou vendo a bicicleta”!

Fim-de-semana em casa.
O segundo seguido.
Primeira vez esse ano.
Será preciso terapia?

E em homenagem às loucuras dessa semana fica um pensamento “não meu”, pq o meu pensamento tá de ressaca de tanto pensar.


Incenso Fosse Música

Isso de querer
ser exatamente aquilo
que a gente é
ainda vai
nos levar além

07 setembro, 2005

Sons e silêncio

Terça-feira, dez horas da manhã em São Paulo e o dia virou noite.
No meio da Paulista, estranhas vacas coloridas no concreto do Masp e nas calçadas pelo caminho.
Um frio de desanimar qualquer mortal.
Um senhor de sapatos puídos toca Sounds of Silence no acordeom, alheio a toda aquela loucura que o rodeia...
Sounds of Silence? No acordeom? Na Paulista? Em um dia de tempestades?
Tive que deixar um real!

05 setembro, 2005

Acordei bemol

acordei bemol
tudo estava sustenido
sol fazia
só não fazia sentido

Leminsk

Vou pra São Paulo ver se eu me acho.
Até depois do feriado!

04 setembro, 2005

Birra


Assisti e continuo assistindo pasma ao desenvolvimento da situação em New Orleans após a passagem do Katrina, o furacão que maior devastação causou na história recente dos Estados Unidos.
Eu morei na Flórida. Cheguei lá um ano após o furacão Andrew e os resultados ainda eram bem visíveis na vegetação, nos edifícios e na memória das pessoas.
Um furacão é algo indescritível para aqueles que nunca o viram ou não viveram.
O dia vira noite de repente e uma tempestade das piores se forma, com ventos que saem arrastando tudo o que encontrarem pela frente. É assustador, te faz sentir pequeno, praticamente inútil diante da dimensão das forças da natureza.
É também indescritível a situação vivida pelos americanos nesses dias pós-furacão. As imagens retratam a realidade que, em qualquer outro momento, se juraria ser de um país de terceiro mundo, sem recursos, sem comando.
Mas estamos falando da nação mais poderosa do mundo, que em seu intuito de combater e comandar o planeta, acabou arrasada pela única força que não pode combater, nem atacar, e nem se defender: a natureza.
Os relatos dos jornalistas que lá se encontram dando cobertura para o evento são dos mais estapafúrdios já ouvidos na história dos desastres. As lojas, com seus sistemas eletrônicos em pane, se recusam a vender água e alimentos à população, por não ter como registrar o preço dos produtos no sistema computadorizado. Explica-se: nos Estados Unidos as taxas dos produtos não são embutidas, só são registradas nos caixas e esses valores podem variar de porcentagem dependendo do produto. Remédios não são taxados, bens de consumo variam a taxação do mais necessário ao menos. O governo em momento nenhum eximiu estes comerciantes de taxa para que os produtos pudessem sair das lojas imediatamente. Aqui, provavelmente, o mocinho que carrega comida e bebida no isopor, desde a praia até a beira da estrada, quando os congestionamentos ficam quilométricos, já teriam juntado dinheiro pra tirar a família inteira do sufoco pelo próximo mês.
Os policiais, sem recursos, entregam seus distintivos por não ter como combater os saques de uma população que passa fome há dias sem a ajuda que, como em qualquer outro desastre presenciado recentemente, já teria chegado.
Os cidadãos, sem socorro e sem alternativa, passaram a saquear, roubar, e depredar tudo o que encontravam pela frente. Como crianças birrentas que não receberam a atenção de seus pais quando estavam mais desamparadas, partiram para a violência explícita, atacando uns aos outros, violentando mulheres e crianças, roubando e ameaçando estrangeiros que lá se encontravam tão perdidos quanto eles. Mostraram seu descontentamento com as autoridades tornando uma situação que já era ruim pior ainda.
O primeiro mundo, de repente se viu terceiro mundo. Tão desamparado quanto e mais sem recursos que, pois eles desaprenderam a viver sem a tecnologia que os cerca; os médicos não conseguem trabalhar sem os melhores recursos, e por fim ficamos todos iguais perante a vida. Com o agravante de os cidadãos que lá ficaram serem os mais pobres e os mais negros em uma cultura sulista de racismo acirrado que ainda não os absorveu na sociedade americana, e agora estes indivíduos sem casa e sem amparo, sem nada a perder, se dispõem aos atos mais contrários à natureza humana, que é a solidariedade em momentos de crise.
Cinco dias se passaram sem que estes cidadãos fossem socorridos e os governantes, representados em coletiva de imprensa pela Secretária de Estado Condoleeza Rice, não recusaram, mas também ainda não aceitaram nenhuma ajuda da que foi oferecida por sessenta países, mais as Nações Unidas. O que me leva a pensar que a birra passa de pai para filho. Em um momento de crise, o orgulho americano faz o ruim ficar pior ainda.

03 setembro, 2005

Não sei quantas almas tenho.
Cada momento mudei.
Continuamente me estranho.
Nunca me vi nem acabei.
De tanto ser, só tenho alma.
Quem tem alma não tem calma.
Quem vê é só o que vê,
Quem sente não é quem é,
Atento ao que sou e vejo,
Torno-me eles e não eu.
Cada meu sonho ou desejo
É do que nasce e não meu.
Sou minha própria paisagem;
Assisto à minha passagem,
Diverso, móbil e só,
Não sei sentir-me onde estou.
Por isso, alheio, vou lendo
Como páginas, meu ser.
O que sogue não prevendo,
O que passou a esquecer.
Noto à margem do que li
O que julguei que senti.
Releio e digo : "Fui eu ?"
Deus sabe, porque o escreveu.

Fernando Pessoa