Com a data de estréia do Henrique nesse mundo chegando cada vez mais perto, há um assunto recorrente na minha cabecinha: o parto!
Como futebol, política e religião, taí um tema que desperta paixões, e é tão pessoal e intransferível quanto os outros três...
Há dois grupos radicais ultimamente: a turma do “parto-normal-pra-mim-é-cesárea” e a turma do “parto-humanizado-sem-interferência-alguma-se-der-ainda-que-seja-em-casa”.
Eu sou da turma do muro, por assim dizer. Apesar das minhas amigas fãs de cesárea me acharem uma xiita irremediável, eu prefiro a idéia de estar em um hospital equipado e com todos os recursos possíveis em caso de necessidade, e com a prerrogativa de escolher quais intervenções me farão sentir mais confortável para passar pela experiência de ter um filho sem maiores traumas.
Meu primeiro parto foi normal. Eu queria muito que fosse e li muito a respeito antes pra ter certeza que era aquilo que eu queria mesmo. A minha tolerância à dor é razoável e eu costumo tomar remédios somente em caso de necessidade absoluta, mesmo nos episódios das minhas enxaquecas recorrentes.
Como na época eu morava numa cidade de 80 mil habitantes onde médicos só atendem por plano de saúde e por isso têm que “otimizar” seu tempo, lutei contra a maré pra ter meu parto normal em um hospital privado. Em hospitais públicos, ao que me parece pelos relatos ouvidos, a realidade é bem menos humanizada ainda, com mocinhas despreparadas deixadas à sua própria sorte com uma bolsinha de oxitocina pendurada no braço e gritando por dor, medo ou ignorância, sem um acompanhante, até que perto da hora iminente alguém venha, sem anestesia ou analgésicos, acolher a nova vida que vem à luz. Por um lado entendo porque a maioria das minhas amigas que estagiaram em hospitais públicos são ferreamente a favor da cesárea já de cara. Por outro, tenho por teoria que se a experiência fosse tão vastamente traumatizante, todos os filhos de parto normal seriam filhos únicos.
Das minhas ressalvas contra a cesárea, as duas principais vêm, primeiro, da imposição da intervenção cirúrgica pelo próprio médico já nas primeiras consultas, pressionando a mãe a “marcar” uma data pro parto, porque pode ser que ele não esteja ali pra te assistir quando o bebê resolver dar o ar da graça. No meu caso, e pra deixar bem clara qual era a minha posição a respeito, pedi ao médico que fizesse um pré-natal impecável, como eu sabia que ele era extremamente competente para fazer, que se ele não estivesse presente no parto teriam outros médicos na cidade (e não médicos também) capazes de trazer essa criança ao mundo, como acontece desde os primórdios do mundo. Talvez hoje eu não tivesse este culhão, mas tinha muita água pra rolar embaixo da ponte ainda com 6 meses de gravidez pela frente, e o que eu quis deixar claro naquele momento é que eu não seria intimidada a fazer algo com o qual eu não concordava se não houvesse motivos suficientes pra tanto. Ponto! Bem ou mal funcionou e apesar da minha cabeça duríssima, e ele sempre insistindo na possibilidade de uma cesárea, o episódio que me fez aparecer às 10 da noite de uma sexta às 35 semanas de gestação, com 2 cm de dilatação e contrações nada discretas levou-o a acreditar que talvez aquela minha insistência resultasse em algo. Mas não naquele momento... Então lá fui eu “cruzar as pernas” pelos próximos dez dias para que a Maria Clara ganhasse peso e saísse o mais madurinha possível da minha barriga.
A segunda veio quando finalmente, depois de um longo dia de caminhada após a saída do período de repouso cheguei ao hospital com 5 cm de dilatação e contrações em intervalos curtos e ouvi a enfermeira pedir pra preparar a sala de cirurgia, quando informei a ela que eu queria que o parto fosse normal. No que ouvi como resposta que alguém do meu tamanho, com um metro e sessenta e poucos e cinqüenta e tantos quilos jamais conseguiria ter um parto normal!!! Pior do que o trabalho de parto talvez tenha sido discutir com a enfermeira para que eu pudesse ter um trabalho de parto!! De má vontade, a moçoila me colocou na sala de pré-parto enquanto eu fingia, vejam bem, ter contrações fortes, pois além de tudo ela não acreditava, apesar do cardiotoco, dilatação, etc, que eu pudesse estar em trabalho de parto!!
De quando a bolsa, ainda intacta, foi rompida, até o momento da expulsão, deitada em uma mesa cirúrgica, pois não havia outra alternativa ali naquele hospital, foram duas horas de um trabalho de parto tranqüilo, com anestesia, que me incomodou bastante no pós-operatório, junto com a episio, mas sem a qual talvez eu não tivesse sido tão “macha” assim....
Não foi o parto que eu queria, mas foi o mais próximo que eu consegui de ter meu direito respeitado.
Eu entendo que o principal motivo que leva as mulheres a optarem por uma cesárea eletiva é o medo da dor e a falta de informações, além dos dois motivos apresentados acima. No meu caso, que nunca tinha entrado num centro cirúrgico na vida, nem tido nenhuma parte contendo órgãos vitais destrinchada, a cesárea não tinha nada que me atraísse, pelo contrário. Eu tinha verdadeiro pânico da idéia de ter que fazer uma cirurgia desnecessária, entendendo que há casos em que, para o bem da mãe e do bebê, ela é absolutamente necessária, como para evitar um parto com fórceps, ainda que estas condições sejam muitas vezes distorcidas pelos profissionais partidários da rápida cesárea, deixando as gestantes, neste momento tão vulnerável, na dúvida do que realmente seja relevante ou não.
Desta vez, portanto, escolhi uma obstetra que comungasse dos mesmos princípios que eu, e em quem eu confio plenamente além de agradecer muitíssimo a calma que ela me passa, mesmo tendo passado um mês de repouso tentando convencer o filhote que ainda não é a hora. Também escolhi um hospital onde eu serei atendida por enfermeiras obstetras, que não julgam a parturiente pelo peso e altura e sim pelo andamento do trabalho de parto e pela segurança da mãe e do bebê. Gostaria de garantir que eu agüentaria o parto sem anestesia e sem episiotomia, mas nestes dois quesitos ainda sou frouxa por falta de um aprofundamento maior no tema (e porque quando dá de doer mesmo, você esquece a maior parte destes princípios todos e o que era pra ser uma experiência legal vira uma tortura interminável) para que eu me decidisse firmemente a respeito.
No mais, filhote encaixado, colo do útero afinando, contrações em treinamento (e até um pouco mais que isso) e dilatação de 1 cm que rezo que siga em frente quando chegar a hora.
E que venha à luz o Henrique quando ele achar que deve pra trazer muito mais alegrias pra essa família!!
2 comentários:
Embora eu seja fã do parto normal, e o defenda com unhas e dentes... claro que sem abrir mão da tecnologia médica... eu sou da turma: QUE SAIA LOGO .... kkk... não fui eu que optei por essa escolha.... foi a vida... kkkkkkkkkkkkk
Carol.... estou dormindo o cel na mão... é só ligar que eu apareço...
boa sorte pra você e pro meu afilhadinho amado!
Não foi dessa vez, madrinha, mas o "buraco" tá aumentando, rsrs.
Eu concordo com vc que a partir do oitavo mês a gente só quer mesmo que saia!! Mas no seu caso, como vc disse, não foi opção, foi segurança e é claro que foi o melhor pra vcs dois!
O que eu discordo é da falta de informação e do terrorismo psicológico numa hora tão delicada como essa...
Beijinhos, na contagem regressiva!
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