27 agosto, 2006

Tempos Modernos

Meço as palavras pra não me perder em sandices, mas o vazio diz mais, o escuro diz mais.
Me perco mesmo assim. Se sou eu ou se são os outros... Essa tristeza besta que sisma em me cutucar, em me atormentar.
A cabeça gira e os pés continuam no chão, seguindo passo a passo o caminho a ser percorrido. A estrada, antes que os tijolos amarelos cheguem.
Não vejo tijolos amarelos de onde estou. Nem vejo o céu azul. Só relances de céu e nuvens e o verde gramado das colinas pela janela trancada, acortinada, envidraçada.
Espero amanhã chegar, pra me refazer do hoje e aguardar novamente um amanhã, onde tudo se repete milimetricamente e sistematicamente, para o bem do todo, passo a passo, dia a dia, sempre igual.
A cabeça, o corpo, o coração, a alma se abarrotam de sentimentos empilhados em estantes empoeiradas, esperando sua senha para sair, para ser.
Há problemas no sistema, não há senhas suficientes, não há tempo ou lugar fora das estantes para os sentimentos.
Teremos que aguardar. Chamar a assistência técnica para liberar as senhas, deixar esvaziar as estantes de sentimentos.
Não há papel suficiente onde colocá-los, não há pessoas interessadas em tê-los.
Há um mercado em declínio.
Há alguns produtos em consumo crescente e infinito: há stress, nervoso, tristeza, angústia e desapontamento.
Mas há um nicho.

Faremos papel, pintaremos o sol mais amarelo, o céu mais azul, redesenharemos as janelas sem vidros e relançaremos, em primeira mão, para todo o mundo, a nova e reestruturada ESPERANÇA.

Nenhum comentário: