29 agosto, 2006

Full circle


À esquina de completar um ano de vida, e voltando de volta às raízes longínquas de onde saiu, publico um texto de uma amiga de muitas horas, escondido que estava como comentário.
Comentário não é. É poesia!

Sonhava com o belo em abstrato...
Recebia o estranho em concreto...
Achava que pudesse haver algum controle...
Saquei que isso fazia parte do sonho... O sorriso era o reflexo das esperanças...
Notei que elas também eram parte do sonho...
Talvez o segredo esteja em desnudar o sonho e identificar as pedras que colocamos no chão do nosso caminho como o estranho que pula repentinamente sobre nós, surgido de um indesejado pesadelo..
E só então, quem sabe, consigamos transformar o belo em concreto...
E a realidade em nosso mais íntimo belo, trazendo dentro do olhar, a concretude do sonho mais belo...

27 agosto, 2006

Tempos Modernos

Meço as palavras pra não me perder em sandices, mas o vazio diz mais, o escuro diz mais.
Me perco mesmo assim. Se sou eu ou se são os outros... Essa tristeza besta que sisma em me cutucar, em me atormentar.
A cabeça gira e os pés continuam no chão, seguindo passo a passo o caminho a ser percorrido. A estrada, antes que os tijolos amarelos cheguem.
Não vejo tijolos amarelos de onde estou. Nem vejo o céu azul. Só relances de céu e nuvens e o verde gramado das colinas pela janela trancada, acortinada, envidraçada.
Espero amanhã chegar, pra me refazer do hoje e aguardar novamente um amanhã, onde tudo se repete milimetricamente e sistematicamente, para o bem do todo, passo a passo, dia a dia, sempre igual.
A cabeça, o corpo, o coração, a alma se abarrotam de sentimentos empilhados em estantes empoeiradas, esperando sua senha para sair, para ser.
Há problemas no sistema, não há senhas suficientes, não há tempo ou lugar fora das estantes para os sentimentos.
Teremos que aguardar. Chamar a assistência técnica para liberar as senhas, deixar esvaziar as estantes de sentimentos.
Não há papel suficiente onde colocá-los, não há pessoas interessadas em tê-los.
Há um mercado em declínio.
Há alguns produtos em consumo crescente e infinito: há stress, nervoso, tristeza, angústia e desapontamento.
Mas há um nicho.

Faremos papel, pintaremos o sol mais amarelo, o céu mais azul, redesenharemos as janelas sem vidros e relançaremos, em primeira mão, para todo o mundo, a nova e reestruturada ESPERANÇA.

22 agosto, 2006

Pra quem não sabe...









Tô relendo minha lida, minha alma, meus amores
Tô revendo minha vida, minha luta, meus valores
Refazendo minhas forças, minhas fontes, meus favores
Tô regando minhas folhas, minhas faces, minhas flores
Tô limpando minha casa, minha cama, meu quartinho

Tô soprando minha brasa, minha brisa, meu anjinho

Tô bebendo minhas culpas, meu veneno, meu vinho
Escrevendo minhas cartas, meu começo, meu caminho

Estou podando meu jardim
Estou cuidando bem de mim...

(Vander Lee)

16 agosto, 2006

Sobre o fim e o começo

sossegue coração
ainda não é agora
a confusão prossegue
sonhos afora
calma calma logo mais
a gente goza
perto do osso
a carne é mais gostosa

(Leminsky)

10 agosto, 2006

A insustentável leveza do ser ou Há luz no fim do túnel









Agora que tudo acabou, e foi devidamente digerido, alguns dados relevantes:
18 dias, 2 internações, 1 única, insistente e irremovível pedra no canal, 2 hospitais, várias comparações, estradas intermináveis, 1 doente irremediável, 1 esposa em franco desespero, muitos amigos solidários, 2 amigas anjas da guarda para todas as horas, Mônica e Ana e dias que não acabavam nunca. Mas acabaram!

07 agosto, 2006

Dizem por aí...

Eu gosto de ditados.
Não de qualquer um, mas daquelas pérolas filosóficas condensadas em pouco mais de meia dúzia de palavras.
Principalmente gosto de achar ditado novos, daqueles lá do interior do sertão ou dos confins da China, mas que servem pra qualquer um aqui, ali e acolá.
O meu favorito de todos os tempos eu ouvi pela primeira vez da boca da minha mãe. Tenho certeza que nem ela lembra mais disso. Ela o atribuiu na época a uma das nonas centenárias, daquelas que brotam às dúzias na minha família:
O céu do sapo é do tamanho da boca do poço!
Além de ser praticamente um trava-língua, requer um minuto de atenção pra decodificar a mensagem e uma imaginação fotográfica (a minha parte favorita) para chegar ao real significado desta frase: você só enxerga aquilo que você consegue ver. E pra bom entendedor, não precisa dizer mais nada!
Outro que entrou recentemente pra categoria de frases geniais vem da simplicidade das terras africanas e foi dito por um angolano em entrevista a um jornal na televisão:
Quando dois elefantes brigam, quem mais sofre é a grama!
Ele usou esta frase pra explicar a guerra que seu país vivera explicando que quando os poderosos medem forças, quem perde mesmo é o pobre desgraçado que não tem parte nisso nem vai ganhar nada no fim da história, a não ser mais pobreza e miséria.
Eu, grama e sapo que sou, estou indo gramar e coachar um pouco mais longe de elefantes e poços pra ver se as coisas caminham diferentes.
Até lá Deus que ajude nós que cedo madrugamos!