06 janeiro, 2010

Dia 1 – Santiago – Calama – San Pedro de Atacama, or the Day that wouldn’t end

O dia um na verdade coincidiu com o dia 31 de dezembro. Saímos às 5 da manhã de Santiago para um vôo de duas horas até Calama.

Não acho que seria possível ter noção da dimensão do Atacama não fosse este vôo no nosso caminho. De um lado o Pacífico, do outro a Cordilheira e no meio... Nada! Ou quase nada... Ocasionalmente uma casinha ou uma pequena cidade aparecia fora da costa. Sendo conhecido como o deserto mais árido do mundo, não havia uma única nuvem que nos impedisse de ver a lua cheia se por no Pacífico enquanto por detrás da cordilheira vinha subindo o sol em pleno vapor.

Descer em Calama foi a primeira experiência surreal dentro das muitas que se seguiriam pelo dia. Além da pista propriamente dita por onde o avião desce e tem que taxiar, todo o resto do aeroporto é feito de ... areia!! Sendo um aeroporto pequeno, depois de descer, o avião faz meia volta pela mesma pista por onde veio e segue até a área de desembarque. A recepção, às 7:30 da manhã foi feita em forma de ventos que trincavam até o último osso do dedinho do pé e declarados 6° C, ainda que eu tivesse certeza que se tratasse de muuuuito menos. Pela única esteira do aeroporto todos os passageiros foram pegando suas malas, enquanto esperávamos sentados até que sobrássemos somente nós e algum grilo desavisado aguardando pelo mocinho que deveria nos entregar o carro alugado. Como a cidade é pequena, os agentes das empresas de aluguel de carro não fazem plantão no aeroporto, nem em pleno 31 de dezembro, principalmente porque todos os carros disponíveis na cidade já haviam sido locados. Contamos, pra nossa felicidade, com a ajuda dos 2 únicos agentes que estavam por ali pra ligar pro celular da pessoa responsável e apressá-la a chegar.

Lá fomos nós com nosso mais novo Toyotinha, procurar um mercado pra nos abastecer antes de seguir pra São Pedro, considerando que dados os últimos imprevistos, se nada mais desse certo, pelo menos teríamos o que comer até a noite.

Se pudesse descrever Calama, seria algo como uma Dubai de classe média. Um oásis no meio do deserto, e ainda assim com uma estrutura comercial bastante sólida. Pelo menos para viajantes de emergência como nós. Encontramos um bom supermercado e um shopping Center que equivaleria a qualquer um de São Paulo, compramos nosso café da manhã, um colchão inflável e dois sacos de dormir e partimos para São Pedro para encontrar nossos companheiros de viagem que vinham do Brasil até nosso ponto de encontro de carro. Nosso tempo de férias, porém, não permitiu que fizéssemos o mesmo.

No nosso caminho... deserto. Nenhuma novidade, considerando que já sabíamos onde estávamos nos metendo. Porém, pra quem nunca esteve em um deserto antes (eu já estive no Novo México, mas numa experiência totalmente diferente que não conta pontos aqui) não se tem idéia da dimensão do dito cujo até que se esteja lá no meio. Ele não termina nunca, e assim fomos acompanhados de dunas, erosões e outras modalidades de amontoar areia até nosso destino.

São Pedro do Atacama é uma cidade pitoresca (e acredito que neste caso, a palavra “pitoresca” tenha tido sua melhor utilização desde que eu a descobri na adolescência) de 1958 habitantes no meio do deserto. É uma São Tomé das Letras, que ao invés de ter sido contruída com pedras São Tomé, foi construída em adobe, no secume sem fim característico da região. As ruas são de areia e na rua principal, a Calle Caracoles, não se pode passar de carro. Assim, os turistas, que se apinham por ali vindos de todas as partes do mundo (mas naquele dado momento no tempo, principalmente do Brasil) caminham livremente por entre as lojas, e as tantas agências de turismo que pipocam por ali. Para uma cidade deste tamanho, a estrutura turística é incrivelmente organizada e há ótimas opções de restaurantes com atendimento bastante simpático. Como nossos companheiros estavam atrasados na chegada, achamos um canto bem bonitinho pra comer num restaurante chamado Casa de Piedra para fazer nossa primeira refeição que não saísse de um carrinho de aeromoça ou uma sacola de supermercado. Enquanto comíamos os funcionários do restaurante aprontavam um globo de discoteca que seria usado na festa de ano novo, mais tarde, junto com jogos de luzes coloridas que contrastavam drasticamente com as paredes de adobe e a cobertura de palha vazada que deixava um pouco da luz do sol do deserto entrar naquele espaço.

Foi com muita sorte, portanto, em pleno dia 31 de dezembro lotado de turistas, sem reservas de hotel, que achamos no 14º hotel, hostal ou camping, um chalé pra quatro pessoas, que convencemos a dona a alugar para nós seis. Nosso oásis particular àquelas alturas tinha dois quartos, uma cozinha e um banheiro com água quente. Tudo muito bonitinho e arrumado. Pegamos sem pestanejar.

Na cidade você achará opções que vão de campings de 7 reais por pessoa, até hotéis de 600 reais a diária, mas independente da sua opção de hospedagem, a não ser que você tenha ido até ali para ver a natureza única que circunda a cidade, não há muito mais que se fazer numa cidade de adobe e areia.

Assim, devidamente alojados no nosso cantinho, e depois de um cochilo de 2 horas, que seria o único sono que havíamos visto naquela jornada que já durava 32 horas, mas que ainda duraria mais 12, fomos para o Vale da Lua ver o último pôr-do-sol de 2009.

O Vale da Lua fica localizado 15 km para fora da cidade e tem este nome porque a natureza dali e da lua são algo muito próximo. A natureza do terreno faz parecer que você não está neste planeta, e sim em outro, como na Lua, em Marte, ou qualquer outro lugar aparentemente árido que você já tenha estudado na escola. Também como na lua, e segundo a guia do local, nada cresce e nada vive ali, nem animais peçonhentos ou inseto que se preze. Devidamente expulsos dali às 8 em ponto, por não haver luz que te guie para fora dali depois deste horário e cair em alguma daquelas crateras deve doer muito, paramos na descida da volta para ver a lua cheia nascer redonda e amarela por detrás do vulcão Licancabur, toda cheia de si, como toda lua que sabe ser a melhor coisa naquela hora da noite no meio do nada.

Como o dia não terminava, mas o ano sim, preparamos nossa ceia mais frugal desde que eu me conheço por gente que passa a meia noite acordada no ano novo. Queijo, uvas, abacaxi, melão, alguns pãezinhos e salame compunham a nossa ceia, junto com uma champagne que havíamos comprado no caminho em Calama, vinho, uísque e algumas outras opções etílicas. Resolvemos por celebrar duas vezes: às 11 horas, quando escrevemos e ligamos para os parentes no Brasil que já colocavam o pé direito no ano novo e depois novamente à meia noite local, junto com os outros chilenos e gringos que por ali se juntavam.

Para uma cidade deste tamanho a balada é algo mais próximo à Ibiza do que eu esperaria. Portanto, na rua principal, portinha após portinha anunciava naquela noite a sua festa particular. Acabamos entrando em uma cuja adesão não era cobrada. Já não devia me espantar a essas alturas quanto entre as salsas locais e as músicas eletrônicas que pontuam qualquer balada, espremeram nossa cultura mais rica, com o Melô do Jacaré ou o Bonde do Tigrão. Mas, como balada é balada e eu não estava muito crítica depois das já 42 horas tocando direto, conseguimos improvisar até alguma coreografia, que apontava os dedos para cada brasileiro que estivesse presente naquele espaço.

Foi assim que, aos 44 (horas) do segundo tempo e a pé, tomamos um banho quente e nos rendemos à cama. Não é necessário dizer que tudo isso foi feito a algo em torno de 2400 a 2800 mts de altitude e portanto foi sentido como se as 44 horas na verdade tivessem sido 88. Mas que cada uma delas valeu mesmo que tivessem sido 120!



31 dezembro, 2009

Almost there or a few first impressions

São 3:00 da manhã no Brasil. São 2:00 da manhã no Chile e o próximo vôo só sairá daqui mais 3 horas.
Eu consegui a maestria de reservar as poltronas bem em cima da asa do avião, o que dificultou ligeiramente, pra não dizer completamente, a vista da cordilheira enquanto cruzavamos a Argentina até o Chile.
Como não há mais vôos até Calama até as 5 da manhã, resta esperar mais algumas horas encostados pelo aeroporto, asim como outros 300 passageiros que disputam conosco as poltronas espalhadas pelo saguão do terceiro andar. Tentar dormir até que é possível, mas o aeroporto está em obras e há uma britadeira (ou será mais que uma?) trabalhando incessantemente perto daqui...
Pelo menos as poltronas não têm divisórias como no aeroporto de São Paulo e eu consegui duas cadeiras só pra mim!! Até cobicei uma terceira, mas tem uma gringa com cara de quem não vai arredar o pé dali.
Oh, well. Este é o espírito de aventura de querer se viajar em plena véspera de ano novo pra passar a virada do ano no meio do deserto do Atacama...
Aproveitando a santa conexão gratuita do aeroporto de Santiago pra desejar um 2010 de pés direitos, vacas gordas e muita paz de espírito pra todos que passarem por aqui!!

26 dezembro, 2009

A DOR DO PARTO

Maria Clara sempre foi avessa a preparativos para viagens. Não que ela não goste de viajar. Ela ama! Mas desde bebê o andar dos adultos que iam e vinham com os apetrechos típicos a fazia chorar até que alguém a enfiasse dentro da mala, literalmente. Devia ser a sua maneira de ter certeza que não seria esquecida...
Por isso, agora, aos dois anos e quatro meses, com os adultos correndo a preparar as malas e ela vendo tudo da escada enquanto brincava de pular os degraus e cuidava da fila de brinquedos trazidos pelo papai noel, a minha vontade foi de enfia-la na minha mala e correr de volta pra casa. Mas na verdade ela passará os próximos 15 dias na casa da vóvó e do vovô enquanto nós vamos tirar férias pela primeira vez fora do país sem ela. Já chorei metade do caminho de volta pra São Paulo enquanto escrevo este post e ainda tem uns 150 km até em casa...Falta muito pro teletransporte virar uma opção real de meio de locomoção??

06 novembro, 2009

La edad del cielo


Não somos mais
Que uma gota de luz
Uma estrela que cai
Uma fagulha tão só
Na idade do céu...

Não somos o
Que queríamos ser
Somos um breve pulsar
Em um silêncio antigo
Com a idade do céu...

Calma!
Tudo está em calma
Deixe que o beijo dure
Deixe que o tempo cure
Deixe que a alma
Tenha a mesma idade
Que a idade do céu...

Não somos mais
Que um punhado de mar
Uma piada de Deus
Um capricho do sol
No jardim do céu...

Não damos pé
Entre tanto tic tac
Entre tanto Big Bang
Somos um grão de sal
No mar do céu...

A original vocês acham aqui.
Um ótimo fim-de-semana a todos!

20 outubro, 2009

Palavrinhas e palavrões...

Filhota desembestou a soltar pérolas, agora que domina perfeitamente o básico do vocabulário pátrio:

Madrinha: Olha ali, que chique! (mostrando o prédio)

Filhota: Não é chique, é uma casinha!

Madrinha: !!!

***

Vovó tentou ensinar pra moçoila o que ela faz no Pilates. Filhota vem com uma bola de basquete, deita de barriga e jogando as pernas pro ar antes de se espatifar do chão diz pro pai:

"Papai, olha, tô fazenu Piátis!!"

***

Agora ela deu de falar expressões que nem desenho animado:

"Oh, não! Minha mamadeira caiu!", "Oh, não! Acabô o bicoito!

Vai pra Hollywood!!

Notinha de Rodateto...

Nenhum comentário que eu escrevesse sobre a semaninha de folga, vulgarmente chamada de férias, seria suficiente pra substituir as fotos abaixo. Então deixo que elas falem por si.

E boa semana a todos, porque aqui até meu computador estava às lágrimas (de chuva, que escorreu luminária adentro da minha sala no escritório) de me ver voltar.

Mais um tiquinho de férias




Férias em preto e branco!



Férias!







09 outubro, 2009

Faz-me rir!!


É só clicar na imagem pra ler a sugestão e compartilhar minha estupefação!

07 outubro, 2009

Bandidagem

Se alguém disser pra mim, em algum surto romântico-stanlinista que isso de alguma maneira é sério, por favor, vá plantar batatas, literalmente.
Abra a porta da sua casa e dê pouso para os marginais bárbaros que conduziram esta operação maquinada.
Alguém pode me dizer o que aconteceria com os 400 colonos que perderiam o emprego? Quanto menos direito tem eles que a horda que invadiu e depredou a fazenda da Cutrale?
Colono, por definição do dicionário é aquele que cultiva uma porção de terra ligado ao proprietário por um trato. Tem por sinônimos agricultor, cultivador, lavrador.
Estes não têm direitos. São empregados, parceiros (no sentido agrário da palavra), já têm sua porção de terra. Não serão os primeiros ou últimos que eu vi perder a terra para a massa de manobra dos líderes do "movimento sem-vergonha" que se escondem por trás da ignorância do povo.
Alguém pode me explicar como alguém pode levar a sério um movimento que sistematicamente entra e depreda propriedades particulares (no caso em questão só para começar a lista 7.000 pés de laranja e 28 tratores) sem consequência criminal alguma? Alguém também pode me explicar como é que eles são patrocinados pelo governo para conduzir estas ações?
Defensores da futura Farc brasileira, por favor, não percam seu tempo tentando me convencer da beleza e justiça nestas ações. Dê metade do seu salário, metade do seu guarda-roupa, metade da sua geladeira a eles. Não sendo suficiente, deixe que eles entrem na sua casa, quebrem o motor da sua geladeira, matem seu gato e seu cachorro. Daí então, venham conversar comigo.
Antes disso, me poupem dessa baboseira!

A propósito, se alguém quer saber minha opinião para tudo isso, se não ficou explícito, é educação de base, mas isso parece ser mais impossível para o governo que ciência espacial....

06 outubro, 2009

Travail

São quase 11 da noite e eu continuo pendurada no computador trabalhando.
Cosas importantes se pasan en Sudamerica.
Semana que antecede as férias: as noites prometem ser longas.
Que bom que sobrou vinho da festa de sexta pra me fazer companhia...