Andei pensando, pensando, numa alegria meio triste. De coisas corridas, de coisas passadas sem tempo de ser absorvidas. Uma ressaca de consciência que pensou demais e agora não consegue nem escrever...
Também de uma tristeza alegre que vem sempre nessa época. Época de reflexões, época de novos começos e novos rumos.
Tempo de entender melhor a si mesmo e os outros. Alguns tão juntos, outros tão sozinhos, mesmo que tão acompanhados.
Uma melancolia de saber que tanta gente espera um ano inteiro pra fazer algumas boas ações, pra dizer alguns “eu te amos” tão guardados...
De não se ter tempo pra fazer o que se gosta... De estar com quem se gosta...
Com tudo isso, acabei resgatando uma lição que há muito tempo não lia... Um trecho de Cartas a um jovem poeta, de Rainer Maria Rilke... Uma carta que não foi escrita pra mim, mas mexeu com a minha vida e determinou essas linhas que hoje eu escrevo. Uma carta que, substituindo-se a palavra escrever, servirá como norte para todos estes momentos de conflitos da vida...
“Pois bem - usando da licença que me deu de aconselhá-lo - peço-lhe que deixe tudo isso. O senhor está olhando para fora, e é justamente o que menos deveria fazer neste momento. Ninguém o pode aconselhar ou ajudar, - ninguém. Não há senão um caminho. Procure entrar em si mesmo. Investigue o motivo que o manda escrever; examine se estende suas raízes pelos recantos mais profundos de sua alma; confesse a si mesmo: morreria, se lhe fosse vedado escrever? Isto acima de tudo: pergunte a si mesmo na hora mais tranqüila de sua noite: Sou mesmo forçado a escrever? Escave dentro de si uma resposta profunda. Se for afirmativa, se puder contestar àquela pergunta severa por um forte e simples sou, então construa a sua vida de acordo com esta necessidade. Sua vida, até em sua hora mais indiferente e anódina, deverá tornar-se o sinal e o testemunho de tal pressão. Aproxime-se então da natureza. Depois procure, como se fosse o primeiro homem, dizer o que vê, vive, ama e perde.
Também, meu prezado senhor, não lhe posso dar outro conselho fora deste: entrar em si e examinar as profundidades de onde jorra a sua vida; na fonte desta é que encontrará a resposta (...).
Nada poderia perturbar mais do que olhar para fora e aguardar de fora respostas a perguntas que talvez somente seu sentimento mais íntimo possa responder na hora mais silenciosa.”
Licença que eu tô indo pensar...
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