30 setembro, 2005
“Uma menina do seu tamanho”
Eu não sei se mais alguém lembra, mas eu nunca esqueci desse texto que apareceu várias vezes nos meus livros de português nos muitos anos de colégio.
Eu descobri faz pouco tempo (mais precisamente: semana passada) que ele faz parte de um livro da Ana Maria Machado, chamado “Bem do seu tamanho”.
O texto fala de uma menininha que não pode fazer uma série de coisas, porque uma menina do seu tamanho já não faz, ou ainda não faz aquilo. Uma menina do seu tamanho não fica na sala enquanto os adultos estão conversando (sim, na minha infância ainda existiam essas restrições!). Mas uma menina do seu tamanho também já é grande demais pra fazer birra. No fim das contas, a menina não sabe bem qual é o seu tamanho, pois nada parece ser adequado pro tamanho dela.
Eu fiquei anos com esse texto na cabeça sem entender por quê. Até o dia em que eu acordei e vi que todos nós somos, eternamente, uma menina, ou menino, do seu tamanho.
Tudo começa com a idade da menininha do texto, ou até antes.
Depois...
Uma menina do seu tamanho não sai a essas horas da noite. Um menino do seu tamanho já devia estar trabalhando.
E o tempo passa...
Uma moça do seu tamanho já deveria estar casada e com filhos. Um moço do seu tamanho não brinca mais com essas coisas.
E continua passando...
Uma mulher do seu tamanho não vai a esses lugares. Um homem do seu tamanho não sai com uma mulher deste tamanho.
A questão é que, independente das lacunas a preencher com o tal tamanho, nós nunca vamos escapar dessa fita métrica.
Então, se é assim, eu só proponho que nós sejamos do nosso tamanho, o tamanho que nos faz felizes. E que esse tamanho possa nos levar a lugares incríveis e a experiências inesquecíveis.
Bem do nosso tamanho!
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Um comentário:
o paradoxal para os adultos é que a completude singela da visão de uma criança é absolutamente inalcansável.. e o problema é que quando crescemos é mister reaprendê-la para a completude plena da realização.
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