03 setembro, 2005

Não sei quantas almas tenho.
Cada momento mudei.
Continuamente me estranho.
Nunca me vi nem acabei.
De tanto ser, só tenho alma.
Quem tem alma não tem calma.
Quem vê é só o que vê,
Quem sente não é quem é,
Atento ao que sou e vejo,
Torno-me eles e não eu.
Cada meu sonho ou desejo
É do que nasce e não meu.
Sou minha própria paisagem;
Assisto à minha passagem,
Diverso, móbil e só,
Não sei sentir-me onde estou.
Por isso, alheio, vou lendo
Como páginas, meu ser.
O que sogue não prevendo,
O que passou a esquecer.
Noto à margem do que li
O que julguei que senti.
Releio e digo : "Fui eu ?"
Deus sabe, porque o escreveu.

Fernando Pessoa

3 comentários:

Anônimo disse...

ora, ora.. o que é a alma se não simplesmente ser o que se é? a alma é uma só.. só que ela só é. não se opta, não se escolhe.. só é. de tão pouco que é, não lhe dão a razão. de tão pouco que é, passa por pífia.. mas quando bate a redenção.. ah.. ela brota no olhar de quem só é.. perene.. o resto, ah.. o resto.. são simplesmente efemeridades..

Anônimo disse...
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Anônimo disse...

Oi Amor,

Parabéns pelo seu blog, cê tava precisando mesmo soltar tudo isso que você escreve e mostrar pro mundo, afinal voc~e faz isso bem...
Beijos
Lu