16 março, 2007

String of Pearls

Olhando curiosa pela vitrine da joalheria aquele colar um tanto desajeitado de pérolas amassadas, vejo de repente a vendedora que se deslocou até onde eu estava, do lado de fora, para “ter” comigo.
-- Bonito, não é?
-- Bastante, mas não consegui entender ainda essas pérolas.
-- É porque elas são pérolas de água doce – responde a vendedora prestativa.
E eu apreciadora de uma boa conversa à toa:
-- Pois é, eu sei que hoje há plantéis de ostras para a fabricação de ostras. Imaginei que fosse uma variação.
-- Nossa, você entende bastante disso, hein? – disse ela, apesar de ter achado um exagero de elogio pra uma informação tão pequenininha.
-- É que eu tenho uma amiga designer – expliquei.
Não sei qual foi a palavra mágica que foi dita, mas em questão de segundos ela tinha me puxado pra dentro da loja pra ver o colar mais de perto.
O mais perto significou ver o colar no MEU pescoço.
A bagatela? Quase cinco mil reais! Mas podia parcelar em até 12 vezes.
Pausa para uma revisão: nada que eu tenha posse custa algo parecido com isso. Nem a geladeira, nem meu computador, só o carro, mas não é passível de comparação. Não que eu não aprecie o trabalho de joalheria que é pegar uma pedra que saiu da terra, bruta, cascuda, ou mesmo de dentro de uma ostra, eca, e transformar em uma arte linda dessas. Mas andar com uma arte dessa pendurada no meu pescoço eu acho não só sufocante, quanto imoral, levando-se em consideração que nem minha própria casa eu comprei.
Mesmo assim, não perdi a pose. Pior do que não ter dinheiro pra comprar é ter cara de quem não tem dinheiro pra comprar!
E aí vem a segunda pausa. Eu de cara lavada, rabo de cavalo, cabelo molhado de banho, zíper da calça semi-aberto na lateral porque minha barriga de grávida está tomando as devidas proporções que deveria ter, de que maneira ela me viu como cliente em potencial?
Achei que no fundo ela estava entediada, com a loja vazia e resolveu tirar onda comigo.
Mas também não me deixava ir embora.
-- Pede pro seu marido te dar de presente.
-- Tá bom, vou conversar com ele e mais tarde passamos aqui. – na esperança da libertação.
-- Que nada boba. Liga pra ele agora e você já leva.
Oh God.
-- Mas ele está em reunião, com o celular desligado. Além disso, nós estamos montando enxoval pro bebê. Agora não é uma hora boa pra importuná-lo com isso.
Campainha vermelha. Téééé. Frase errada, pois eis que ela volta com um conjunto de pulseira e brincos de ouro puro para a nenê, que iam ficar perfeitos para ela sair da maternidade.
Superman, Supermouse, Mulher Maravilha! Help!
-- Nossa, lindos. - digo eu sem saber as palavras mágicas para sair de lá.
Lembrando que o colar de pérolas ainda está pendurado no meu pescoço, com um detalhe em ouro e um fecho de rubi impossível de abrir. Portanto, eu não posso fugir. Sem mais argumentos tentei me libertar:
-- Olha, faz o seguinte, ele vai me encontrar aqui no shopping mais tarde, então eu converso com ele e volto aqui pra ele ver o colar, tudo bem?
-- Porque você não vai até a reunião com o colar pra ele ver? Eu te empresto pra ir até lá.
What???? Eu passear com um colar de 5 mil que eu nem comprei pela cidade de São Paulo? Nunca nessa ou em qualquer outra vida!
Meia hora de muita lábia e todas as desculpas do mundo consegui finalmente fazê-la tirar o colar que já estava pesando uma tonelada a essas alturas. Consegui sair de lá, mas não sem antes deixar meus dados para que ela mandasse o catálogo com os novos lançamentos.
Eu, sinceramente neste ponto já estava até disposta a entregar meus documentos pessoais, pagar fiança, desde que eu pudesse ir embora.
Contando pro meu marido o ocorrido ouço dele:
-- Se eu pudesse te dar um colar desses...
Hum, imaginei, sabia que ele me daria se pudesse!
Mas ele continuou:
-- Você acha que eu pagaria a prestação?
É... cada um ouve o que merece.

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