Semana passada perdi uma sílaba. Seria uma besteira, não tivesse causado um estrago tão grande. Foi um "ma", mas me alçou do título de "mamãe" para simplesmente "mãe", que ela passou a usar sem titubear. O novo título também não é pouco, eu sei, mas já anunciava o sinal de novos tempos...
Hoje desmontamos de vez o berço que ela usou nos últimos dois anos e meio.
Só posso dizer que depois de tudo isso eu vou precisar de terapia urgente...
29 janeiro, 2010
11 janeiro, 2010
Dia 11 – Santiago – São Paulo, ou impressões e conclusões
O tour pelas vinícolas que faríamos na última manhã no país não saiu, por conta de horários e preços. Para ir por conta, o que não é nada difícil por aqui, se paga 7.000 pesos (mais ou menos R$ 25) o passeio. Com os tours organizados, são 28.000 por pessoa (R$ 100), ou seja, 4 vezes mais. O impeditivo do tempo foi que os passeios costumam ser de dia todo ou no período da tarde, e o horário do vôo nos obrigava a estar de volta ao aeroporto às 3 da tarde, entonces, como tantas outras coisas não vistas, ficou pra próxima. Fechamos as malas, rumamos para o aeroporto e fizemos o balanço dos últimos dias.
- Companhia é tudo pra uma road trip dessas. Bons amigos que tornam as dificuldades mais leves, as estradas mais curtas e compartilham as experiências mais inesquecíveis com você não têm preço!
- São Pedro é uma cidade mágica e acessível a todos que se dispuserem a conhecer algo de diferente. Há pequenas pousadas e grandes resorts e NUNCA, mas nunca mesmo, chove por ali (o mesmo vale pra maior parte das cidades costeiras a beira do deserto);
- Muita gente fez cara feia quando anunciei que faria esta viagem, mas fomos sabendo onde estávamos nos metendo e não estava errada, nem em momento algum me arrependi, pelo contrário. A experiência de estar num lugar como o Atacama só me faz ter mais certeza de que a gente não precisa de tanto pra viver, e que aquele lugar pode ser um reflexo do mundo que iremos ter caso não desaceleremos o pé no consumo sem fim de cada dia (e do qual não nos damos conta até que não tenhamos outra alternativa se não nos virar com o mínimo). Talvez as pessoas que menos quisessem estar ali são as que realmente precisassem ir, para entender que há um ciclo de vida e que o elevador do seu prédio não sobe sozinho, que água além de acabar não vem na garrafa e ter carne na mesa e fruta na cesta não é algo óbvio em todos os lugares do mundo, mas que deveríamos ser gratos por ter esta opção, e não desperdiçá-la;
- Pena que acabou tão rápido!
Dia 10 – Santiago
O sol já havia raiado fazia um bocado de tempo quando finalmente conseguimos nos mexer pra resolver o problema da véspera. Não sem antes tomar café da manhã, já que estava incluso no pacote. Não deveria nem ter ficado surpresa quando depois de três becos dignos de Hogwarts, chegamos à tumba de Tutancâmon para o café, ou assim ao menos parecia. As paredes eram pintadas à moda egípcia, com hieróglifos, sacerdotes, aves, e o que mais você possa imaginar. Lugar de dar medo e comida também.
Felizmente, a um quateirão dali o brasileiríssimo Blue Tree nos deu as primeiras “boas” vindas à cidade, e o recepcionista piedoso, tomando conhecimento dos nossos percalços, nos deu um quarto melhor do que a diária contratada, para que não saíssemos da cidade com uma péssima impressão. A região ali se chama Paris-Londres e as ruas poderiam se passar tranquilamente como de qualquer cidade charmosa da Europa.
Santiago é uma cidade com 6 milhões de habitantes, portanto quase uma São Paulo. Como a idéia da viagem era fugir da civilização, e não correr pra ela, não foi com grande empolgação que começamos a percorrer as ruas do centro. O Mercado Central, uma versão bem miniatura do nosso Mercado Municipal serve peixes frescos pro almoço e muitos dos garçons falam um portunhol bem fluente, considerando o número de turistas brasileiros que vimos por ali. O assédio aos turistas que ali entram é grande então se não quiser comer desconverse, porque eles virão atrás de você mesmo assim.
Decidimos que o melhor era circular pela cidade de metrô, muito mais amplo que o nosso. Uma alternativa barata, limpa e organizada.
No entanto, quem salvou o dia realmente foi Neruda, ou melhor, a casa dele (e que virou museu) no Bairro de Bellavista, uma vizinhança boêmia que lembra muito a Vila Madalena sem as ladeiras.
Perto da casa de Neruda, há a preços mais salgados, mas num ambiente muito acolhedor, o Pátio Bellavista, uma praça cercada de restaurantes, galerias de arte, lojas de artesanato (com o famoso lápis-lazúli da região) onde eu poderia ficar toda a tarde sem ver a hora passar.
Mas como ainda tínhamos uma lista de coisas pra levar de volta pro Brasil, e as horas estavam passando, rumamos para o Mall Parque Arauco, um shopping meio aberto, meio fechado, que parece um labirinto, mas onde se encontra a maioria das redes do país (que agora já conhecíamos de cor) e várias outras lojinhas interessantes. O TGI Friday’s salvou a noite enquanto ouvíamos uma banda cover tocar todos os sucessos do Coldplay na praça central da parte aberta do shopping. 6 metrôs, 2 taxis e muita, muita comida depois, nos despedimos da cidade pra fechar as malas somente na manhã seguinte.
Santiago é uma cidade com 6 milhões de habitantes, portanto quase uma São Paulo. Como a idéia da viagem era fugir da civilização, e não correr pra ela, não foi com grande empolgação que começamos a percorrer as ruas do centro. O Mercado Central, uma versão bem miniatura do nosso Mercado Municipal serve peixes frescos pro almoço e muitos dos garçons falam um portunhol bem fluente, considerando o número de turistas brasileiros que vimos por ali. O assédio aos turistas que ali entram é grande então se não quiser comer desconverse, porque eles virão atrás de você mesmo assim.
Decidimos que o melhor era circular pela cidade de metrô, muito mais amplo que o nosso. Uma alternativa barata, limpa e organizada.
Dia 9 – Tocopilla – Calama – Santiago ou “O dia da Uruca”
Em viagens, tem sempre um dia que é mais zicado que qualquer outro. O nosso foi este dia. Já acordamos com o ovo virado de ter que ir embora do Dakar agora que as coisas tinham começado a ficar boas. Numa tristeza danada demos nossos adeus, mas antes mesmo de poder sentar no ônibus e chorar as pitangas fomos avisados pela Tur Bus que o ônibus que pegaríamos não desceria até Tocopilla porque a estrada estava fechada por conta do rally. Na verdade, nós entendemos com isso que éramos os dois únicos passageiros e que eles acharam que não valia a pena descer a pirambeira da Serra Pelada que cerca Tocopilla pra pegar os dois manés que precisavam chegar a Calama sem falta para pegar o vôo pra Santiago. Acabamos contatando por indicação do hotel um taxista que além de falar português e mais umas 6 línguas, já tinha viajado o mundo todo (inclusive ao Brasil, onde ele dizia ter deixado algumas chicas chorando por ele).
Naquelas alturas e sem outra alternativa viável lá fomos nós no taxi preto e amarelo, aparentemente padrão em todas as cidades por onde estivemos. Don Jorge, que era uma cruza de chinês com italiana, dizia já ter trabalhado como pintor, mineiro, eletricista, mestre de obras, morou na Itália, no Brasil, nos EUA, falava inglês fluente (o que eu pude confirmar) e devia ter uns 150 anos por tudo o que disse ter feito. Nos serviu balinhas, colocou músicas americanas dos anos 70 e foi nos contando a história do Chile, da colonização da região, do deserto, durante as duas horas do caminho entre Tocopilla e Calama.
O único senão é que o carro não tinha ar condicionado e era preto que só, então conforme avançávamos de volta para o deserto, a sensação de sauna seca era cada vez mais inevitável. Ele nos explicou sobre a extração de cobre na região, que os chineses que víamos pela região chegaram ali para a construção das ferrovias, que as cidades foram construídas ali baseadas no velho oeste americano (e assim foram esquecidas), que os mineiros ganhavam em torno de 50.000 reais por ano, mais adicionais de insalubridade, que Bernardo O’Higgins, presente nas placas de várias das cidades por onde passamos, foi o libertador do país das mãos dos espanhóis no século 18, e por aí foi nossa conversa, só interrompida quando ele renovava seu cheiro com algumas gotas de um perfume “Kenzo” comprado dos camelôs que pipocavam na avenida central de Tocopilla (o primeiro lugar em que os vimos, aliás).
Mas, como dia de uruca vai até o fim, tivemos que esperar uma hora no saguão do aeroporto até que nossas malas fossem trazidas para a esteira no aeroporto de Santiago, e, ao finalmente chegar ao hotel que havíamos reservado, demos conta do engodo em que havíamos nos metido. Eu já devia saber que íamos ter problemas quando vi a placa de “Welcome backpackers” na entrada, mas resolvi ter um pouco de fé na humanidade, já que era 1 hora da manhã de um longo dia de trânsito.
Dia 8 – Largada de Antofagasta – Iquique – pouso em Tocopilla
Dia 7 – Antofagasta – chegada do Dakar
Precisamos rodar uns bons 130 km pra sul de Antofagasta para ver a etapa da prova que vinha de Copiapó. O lugar escolhido: uma duna antes da chegada no meio de que? Do nada, é claro, afinal, estamos no deserto. E, neste, caso, diferente de San Pedro, que fica localizada nas alturas, um deserto dos muuuuito quentes.
Uma coisa é interessante a respeito do deserto, como ouvi dos próprios chilenos enquanto esperávamos ali. As terras do deserto são de uso coletivo, todos podem desfrutar do espaço (que, diga-se é imenso), no entanto, há apenas a concessão do uso da terra, mas não a propriedade, como é o caso da enfiteuse no Brasil. Precisaria perguntar melhor, mas acho que escritura só existe nas cidades... O uso da propriedade e o desfrute do deserto ficou patente quando se estabeleceu tacitamente que os banheiros estariam localizados à direita dos carros. Esse negócio de banheiro no meio do deserto ainda seria tema de muito debate pelo caminho, mas comecei a acreditar que dizia respeito à liberdade (aliada à falta de estrutura) que o deserto proporciona.
Mal havíamos acertado nosso acampamento particular, com churrasqueira e carne de “pavón”, quando uma tempestade-zinha de areia levantou nossa cobertura, transformou nossa carne numa milanesa sem ovos e quase nos mandou embora para casa, mas meia duna mais a frente conseguimos nos estabelecer novamente e esperar os brasileiros terminarem de passar (com direito a bandeira e tudo mais).
Muito sol e quinze camadas de protetores diversos depois, voltamos para o acampamento oficial da prova para acampar em La Portada, onde já havíamos estado dois dias antes e onde seria a base oficial da prova pelos próximos dias. Terminamos o churrasco, agora sem milanesa, estreamos a barraca comprada na véspera e fomos dormir alta madrugada com vista para a cidade toda iluminada e ao som do gerador de uns argentinos sacanas que ficaram acordados até muito mais tarde que nós, enquanto debatíamos a possibilidade de afogar Buenos Aires com toda a água do Rio Paraná.
Dia 6 – Antofagasta (dia de descanso)
Intencionalmente ou por inércia, acabamos tirando o dia para resolver nossas pendências logísticas e comerciais, aproveitando que a cidade tinha estrutura para nos ajudar.
Parte histórica de Antofagasta
A cidade e as dunas
A cidade e o mar
A praça central
A noite foi de rearrumação de malas, pizza, mais “cervezas” (note que já havíamos criado um padrão) para levantar acampamento logo cedo e correr atrás do que havíamos ido ali pra fazer: ver o Dakar pelo último ano confirmado na América do sul.
A passagem de volta entre Calama e Santiago não pode ser mudada, pelo menos não sem deixar nos cofres da Lan Chile o equivalente a uma nova passagem cada.
A maior parte do dia foi passada dentro do Mall Plaza, aparentemente uma rede de shoppings no país, com sentimentos que variavam entre a estupefação, empolgação e revolta com o tanto que nós somos extorquidos no Brasil. Descontei minhas frustrações no Taco Bell, que não encontrava havia 15 anos, desde quando ainda morava na Florida. Entre acessos de consumismo e o novo farnel no supermercado para os dias que se seguiriam, descobrimos que os chilenos não são, pelo menos não naquela região, pessoas multi-tarefas. É como estar no Nordeste do país dos outros (até geograficamente equivalente). Tudo é feito no seu ritmo, sem pressa, e para nós, paulistanos estressados, isso às vezes pode tirar a paciência até de um Jô brasileiro...
A noite foi de rearrumação de malas, pizza, mais “cervezas” (note que já havíamos criado um padrão) para levantar acampamento logo cedo e correr atrás do que havíamos ido ali pra fazer: ver o Dakar pelo último ano confirmado na América do sul.
06 janeiro, 2010
Dia 5 – Hornito, La Portada, Antofagasta
Há algumas conseqüências óbvias da falta de estrutura em uma praia como Hornito. Algumas delas só fomos descobrir com o raiar do dia. Pelo que pudemos observar, acampar é um programa bastante tradicional entre os chilenos, e eles não se contentam em levar somente o básico. Vimos famílias inteiras com mesas, geladeira, comemorando aniversários. Algumas tendas pareciam praticamente haréns no meio do deserto. Algumas tinham subdivisões internas, para que cada membro da família pudesse montar sua própria barraca. Pelo jeito também, é costume local levar tudo de casa, porque não se via sequer uma lojinha ou bar aberto, que dirá um camelô vendendo batata frita, picolé ou o que seja, como nas praias brasileiras.
Na praia inteira, somente um banheiro coletivo, em condições não lá muito higiênicas... A pergunta que não quis calar, neste ponto, foi “como estas pessoas todas fazem as suas necessidades já que o banheiro coletivo fecha às 9 da noite pra só reabrir no dia seguinte??”. A resposta só veio ao acordar, quando pudemos observar que várias das famílias tinham ao lado da barraca tendas/banheiros, que tive que fotografar por não saber explicar melhor, com vasos provavelmente de plástico, e com o produto sendo despejado aonde??? Exato!
Dia 4 – Salar do Atacama, Peine, Mejillones, Hornito
Até empacotar a vida toda que estava espalhada pela pousada, já somava quase 11 da manhã quando nos despedimos de São Pedro. Em vez de fazer a rota padrão de São Pedro para Calama e então Antofagasta, resolvemos fazer uma rota menos óbvia e cruzar o Salar pela parte sul a caminho do mar, com uns poucos oásis perdidos à beira da estrada.
Dia 3 – San Pedro (Geisers Del Tatio, Termas de Puritama, Machuca, Calama)
No deserto do Atacama, a altitude é um personagem dotado de características próprias. Durante o dia e dependendo dos passeios, você poderá variar dos 2400 mts da cidade até algo em torno de 4600 a caminho dos geisers. As sensações pro organismos desacostumados são das mais variadas, mas as mais comuns são falta de ar, náusea e dor de cabeça. Eu já tinha experimentado trabalhar a 3200 mts em Bogotá antes, então sabia que o que me esperava eram alguns dias sem fôlego pra subir nem ao menos três degraus seguidos...
Por este motivo e pelo frio de -9° C que nos esperava nos geisers (que funcionam unicamente ao nascer do sol, por isso o horário esdrúxulo para observá-los) que resolvi me juntar à metade da nossa turma que resolveu não ir. Eu já havia conhecido o Old Faithful, no Parque Yellowstone, anos antes, então minha curiosidade geológica já estava mais do que satisfeita. Assim, só posso transcrever que os que foram deixaram claro que NUNCA passaram tanto frio na vida.
Seguimos mais tarde para encontra-los diretamente nas Termas de Puritama, um conjunto de piscinas de água quente formadas naturalmente no cair de um rio, com uma estrutura bem organizada para receber os turistas que são despejados ali van atrás de van das 8:30 da manhã às 17:30 diariamente.
O preço, mais salgado que os demais passeios ( 10.000 pesos), vale cada centavo depois que você encontra uma piscina de água quente e totalmente cristalina pra chamar de sua. Por isso, não vimos passar as 3 horas que ficamos por ali e só fomos sentir o estrago do sol bem mais tarde, pois o vento congelante que nos espera fora d’água não nos deixa perceber que nem todo o protetor solar do mundo salva de uma pelada dessas. 
Uma curiosidade deste lugar é que os banheiros não têm clarabóias, e sim um buraco no teto, já que nunca chove por ali.
Com alguma relutância dos que já haviam passado por Machuca mais cedo e encontrado tudo fechado, rumamos para este vilarejo 30 km mais a frente das Termas, no caminho dos geisers para experimentar um churrasquinho de llama que servem por ali. Eu sei, elas são bonitinhas, mas ali estando.... O vilarejo tem 40 módicos habitantes, e fica a aproximadamente 4000 mts, com picos de 4200 mts pelo caminho. Eu, que não havia passado até então dos 3500 mts senti pela primeira vez náusea e dor-de-cabeça conforme subíamos. A falta de ar somente fazia com que eu considerasse seriamente a hipótese de abrir a boca pra falar, já que não dava pra fazer isso e também respirar. Por isso, preciso confessar que foi com certo alívio que chegamos a Machuca com tudo fechado e enfrentei novamente calada o caminho até os deliciosos 2400 mts da cidade.
Banho rápido, um almoço corrido na agora já conhecida Casa de Piedra e rumamos no fim da tarde para Calama, para devolver o carro alugado e nos abastecer de dinheiro e mantimentos no supermercado e shopping da cidade. Dali em diante, seguiríamos num dos carros da turma, o que já estávamos fazendo desde a chegada, e que tornou o aluguel completamente desnecessário. Depois das dez, com a cidade fechada e as calçadas recolhidas em pleno sábado, a solução foi rumar de volta para São Pedro e jantar à meia noite do estoque dos mantimentos comprados e ir pra cama para poder levantar acampamento assim que o sol raiasse.
Por este motivo e pelo frio de -9° C que nos esperava nos geisers (que funcionam unicamente ao nascer do sol, por isso o horário esdrúxulo para observá-los) que resolvi me juntar à metade da nossa turma que resolveu não ir. Eu já havia conhecido o Old Faithful, no Parque Yellowstone, anos antes, então minha curiosidade geológica já estava mais do que satisfeita. Assim, só posso transcrever que os que foram deixaram claro que NUNCA passaram tanto frio na vida.
Seguimos mais tarde para encontra-los diretamente nas Termas de Puritama, um conjunto de piscinas de água quente formadas naturalmente no cair de um rio, com uma estrutura bem organizada para receber os turistas que são despejados ali van atrás de van das 8:30 da manhã às 17:30 diariamente.
Dia 2 – San Pedro (Cejar e Licancabur)
Depois da epopéia do dia anterior, resolvemos por livre e espontânea inércia não nos mexer até depois do meio dia. Arrastei algumas coisas do armário para um solário muito bonitinho que ficava ao lado do rio, dentro do próprio hotel e tomei café da manhã escrevendo o episódio da véspera. Como não havia pão disponível na cidade ou qualquer lugar aberto onde se pudesse encontrá-lo, o negócio foi reciclar os da véspera junto com os mantimentos que felizmente havíamos trazido de Calama, e mais um restô da ceia. Como não conseguíamos chegar a um consenso a respeito do itinerário dos próximos dias, resolvemos focar no dia atual antes que ele acabasse. Com um mapa na mão seguimos para a Laguna de Cejar e Pietra, que não sei por que em todos os guias que encontramos, é mencionada como Cejas, com “s” no final...
As lagoas são, em outras palavras, buracos d’água cristalina que brota não sei de onde, mas que devido ao alto teor salino é impossível de se afundar. Mesmo que você não queira, você vai boiar! Portanto, o mais difícil mesmo é ficar em pé na água, porque os joelhos e pés sobem involuntariamente a todo instante. Outra curiosidade é que devido a este teor salino, qualquer nadador que ali adentre sai da água praticamente como uma picanha pronta pra churrasqueira. Fazendo o cálculo de sal no corpo mais sol do deserto, não é recomendável que se passe muito tempo por ali depois de sair da água, considerando que a única sombra que você vai achar é a do seu próprio carro e a prainha ao redor das Lagunas é feita de... sal, é claro! Ainda assim, a visita vale cada grama de sódio que ficará grudada em seu corpo até você voltar para a civilização, com suas roupas pinicando por conta dos pelos duros de sal que se enroscarão nela!

Devidamente salgados, tentamos várias rotas para chegar mais próximos do Vulcão Licancabur, aparentemente inativo, mas de uma rara beleza que pode ser vista de vários pontos da cidade. Depois de uns dois “nãos” por rotas proibidas, seja pelo perigo da altitude ou falta de segurança na estrada fechada e uma proposta indecente de pessoas locais para vendermos nosso combustível, chegamos aos pés do vulcão a 3250 mts de altitude, já nem passando tão mal assim, considerando o tempo de adaptação. Ao lado do vulcão um cânion de aproximadamente 20 mts de profundidade completa a paisagem de tirar o fôlego (considerando a altitude, às vezes literalmente).
Muitas fotos depois, rumamos de volta a cidade já às 19 hrs, mas com sol ainda alto no céu, pra descobrir que o único posto de gasolina da cidade estava fechado por falta de combustível (!!!). Coisas de se esperar numa cidade deste tamanho, ainda que com tantos turistas motorizados por ali. Finalmente entendemos a proposta dos mocinhos da beira da estrada, mas como ainda não estávamos na reserva, rumamos para o hotel para o que devia encerrar a agenda de passeios do dia. Mas... Depois de muito debate sobre onde havia ido parar o jeans e o soft que eu havia colocado na mochila, descobrimos para meu muito contentamento, que eles haviam caído da dita cuja que foi carregada aberta enquanto íamos embora da laguna (com direito a fotos e testemunha, para contestar o argumento de que eu não havia colocado roupa alguma ali). Com o sol já baixando rumamos de volta para o salar/laguna, que diga-se, não é tão próximo assim, num carro popular alugado e adentrando o deserto em pleno cair do dia. Na entrada da Laguna havia um posto de guarda, então se estivesse por ali, eles deveriam saber informar. No entanto, nos esquecemos de vários itens básicos depois da discussão acalorada sobre as duas peças de roupa: primeiramente o juízo, de sair àquela hora pro meio do deserto, apesar de ser um caminho reto, a maior parte de asfalto, sem celular ou qualquer meio de comunicação que o valesse, num horário em que quase certeza tudo ali já estava fechado. Me arrependi várias vezes no caminho, mas foi difícil convencer o marido a voltar depois que ele já havia entrado no trecho “trilha” do resgate. A trilha sonora era apenas a respiração ofegante dos dois e um silêncio monumental, uma vez que no rádio só tocava salsa, e o ritmo não cai muito bem em rotas de perseguição... Chegamos lá com tudo fechado, nenhuma alma a uma distância de quilômetros, porém para meu choque e estupefação de brasileira, que conhece bem o país onde mora, minhas roupas estavam dobradinhas em uma pedra ao lado do posto de controle, aonde alguém havia deixado para que a dona as encontrasse. Sem tempo ou caneta para deixar uma nota de agradecimento e agora com noção do perigo, rumamos voando com um resto de sol se pondo por trás das montanhas e o Licancabur, muitas vezes durante o dia chamado de Nabucodonosor ou Tutancâmon, de testemunha.
Às 21 horas cravadas, a hora do pôr-do-sol por aqui, estávamos de volta ao quartel general para compartilhar um estrogonofe improvisado que foi comido como o seria na Nigéria, considerando que não havíamos tido nenhuma refeição quente desde o almoço do dia anterior.
Juntadas a digestão da comilança e mais o descarrego coletivo e intenso acontecido na tarde, às 23 já havíamos mudado de idéia quanto a passear no centro da cidade e cada um caiu para o seu canto para acordar às 4 do dia seguinte e ver os gêisers ao amanhecer.
Devidamente salgados, tentamos várias rotas para chegar mais próximos do Vulcão Licancabur, aparentemente inativo, mas de uma rara beleza que pode ser vista de vários pontos da cidade. Depois de uns dois “nãos” por rotas proibidas, seja pelo perigo da altitude ou falta de segurança na estrada fechada e uma proposta indecente de pessoas locais para vendermos nosso combustível, chegamos aos pés do vulcão a 3250 mts de altitude, já nem passando tão mal assim, considerando o tempo de adaptação. Ao lado do vulcão um cânion de aproximadamente 20 mts de profundidade completa a paisagem de tirar o fôlego (considerando a altitude, às vezes literalmente).
Juntadas a digestão da comilança e mais o descarrego coletivo e intenso acontecido na tarde, às 23 já havíamos mudado de idéia quanto a passear no centro da cidade e cada um caiu para o seu canto para acordar às 4 do dia seguinte e ver os gêisers ao amanhecer.
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